28.2.13
27.2.13
Caminhos do Espelho
X
Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida.
Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Dentro o vento.
Tudo fechado e o vento dentro.
Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida.
Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Dentro o vento.
Tudo fechado e o vento dentro.
24.2.13
23.2.13
BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim...
[Quintana]
22.2.13
nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas
e. e. cummings.
( tradução: Augusto de Campos )
20.2.13
Sensorial
Porque sei ser só comigo
Sou minha embriaguez
estou entregue aos sentidos
e não faz sentido me multiplicar
Sou interna
19.2.13
LÁGRIMAS NEGRAS
Lágrimas negras caem, saem, doem
São como pedras de moinho que moem ♪
Roem, moem
E você, baby
Vai, vem,vai
São como pedras de moinho que moem ♪
Roem, moem
E você, baby
Vai, vem,vai
18.2.13
Mutações
Nada termina jamais. Onde quer que alguém plante raízes brotadas do seu eu mais puro ou verdadeiro, ali encontrará um lar.
Nada mais pode me ferir.
17.2.13
Notas florais
Nas veias brancas do dia
sobre o suspiro da manhã
abriu-se do silêncio
a fonte secreta
Puro plexo de energia
nos teus olhos de horizonte
e evidências solares
Sorvi a saliva doce da tua boca
colocando o meu ventre
sobre o teu corpo livre
Borboletamos o desejo
em líquido cristal
cintilante
Inseparáveis do céu
debrucei-me
úmida ao chão
Flor do vento
Atravessamos os poros
embalados pelas
pálpebras
Germinamos o amor
gotejando lágrimas
ritmadas
E na secreta alcova
exalamos
o aroma
das maçãs
No sol levante
Por muito tempo voei no vasto campo do céu, caminhei sem rumo entre as estrelas como quem procura... Enfrentei vento de tempestade como quem sabia aonde ia... Descansei sob a lua como quem espera. Só quando lhe encontrei, eu soube que era você que eu procurava.
"Pra se ter um amor sem tamanho num se fica medindo os meio.
Num se tem coisa grande com coragem pequena"
15.2.13
A menina que sabe jardim
foram meses e meses de espera
nada foi possível
sem você aqui
cantei a solidão
beijei o vão
silenciei o sentir
Volta na próxima estação
traz um beijo
e um punhado
de amor
te
espero
Flor.
[...] porque ela conversa com beija-flor
e quando eu morrer
e me tornar beija-flor
quero ter com ela
nos sonhos e no jardim.
[Ribeiro Pedreira]
Abismo
Um gesto sem paisagem
sem horizonte ou casa
sem o outro
não chega a ser um gesto
será talvez um esgar
um grito que sufoca
tal como um rio se perde
sem as suas margens
14.2.13
Sedução
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.
13.2.13
florzinha
amar.é.linha
amor.
as igrejas aqui são escuras. chorei com as cores que inventou. de saudade da luva que agarrada a mim se perdeu. distraída, atravessei o caminho de uma língua que desconheço. é bom sentir. amanhã sera dia dos namorados. pensei numa florzinha amarelinha, suave, que resiste ao frio.
comprei 7 livros, vazios, de folhas em branco, e lápis com vertigem de pedras esculpidas de tempo. aqui a cidade se esquece. e o grafite é delicado como você.
seu toque.
fez os vitrais explodirem em lagrimas. cedo volto. quando nunca, pra sempre.
com amor.
d.
(Dani Carrara)
11.2.13
[a flor do campo]
rasgar a pele dos silêncios em tintas outras
que não palavras
cores e espantos [ mãos calejadas
de antigas urdideiras
fiar a flor colhida ainda há pouco
no campo do sentir
áspero fio que faz sangrar a carne e tinge
a roupa de carmim.
[... e canta
(Nydia Bonetti)
10.2.13
Drummond
Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã...
“Amor é bicho instruído”, de Carlos Drummond de Andrade (1902–1987).
9.2.13
7.2.13
E quem não vai querer
Pra libertar meu coração
Eu quero muito mais
Que o som da marcha lenta
Eu quero um novo balancê
E o bloco do prazer
Que a multidão comenta
Não quero oito e nem oitenta
Eu quero o bloco do prazer
E quem não vai querer?
Mamã mamãe eu quero sim
Quero ser mandarim
Cheirando gasolina
Na fina flor do meu jardim
Assim como carmim
Da boca das meninas
Que a vida arrasa e contamina
O gás que embala o balancê
Vem meu amor feito louca
Que a vida tá pouca
E eu quero muito mais
Mais que essa dor que arrebenta
A paixão violenta
Oitenta carnavais
Duo
TOM
manhã fluida
no branco
amanhecer
flor de cacto
notas
de orvalho
serena
sol maior
[Renata Luciana]
SEMITOM
manhã sem uma pétala
que dissolva orvalhos
cores notas
erudito sol
acorda melodias em mi
menor
[Ribeiro Pedreira]
6.2.13
Rapte-me
Rapte-me camaleoa
Adapte-me a uma cama boa
Capte-me uma mensagem à toa
De um quasar pulsando lôa
Interestelar canoa...
Adapte-me a uma cama boa
Capte-me uma mensagem à toa
De um quasar pulsando lôa
Interestelar canoa...
5.2.13
Liberté
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa
Despe meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama
E conta-me histórias, caso eu acorde
Para eu tornar a adormecer
E dá-me sonhos teus para eu brincar.
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
4.2.13
Apenas Clarisse
"Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.
Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?
E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema [...]
O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."
2.2.13
2 de fevereiro
As águas do meu mar são densas, contínuas, fortes, e profundas. E como uma grande onda me arrebatam para o novo ciclo que sempre vem.
Odô Ya
'quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar'
1.2.13
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