(por Fabrício Carpinejar)
Ter um gato perto é quase uma escolha filosófica, uma postura reflexiva. Ganhou o eleitorado lírico pela sua independência e cotidiano autônomo. Por circular entre mundos. Pelas sete inesgotáveis vidas. Como parece que não está nem aí para o que está acontecendo, excita a meditação e os símbolos. O gato já é um poema naturalmente, inescrutável, dono de uma discrição absoluta. Facilita inúmeras interpretações.
A paulista Orides Fontela (1940-1998) demonstrava um fascínio pelas criaturas de bigodes, investigou seu domínio misterioso tanto em "Helianto" (1973) quanto em "Teia" (1996). Considerava o animal como um visitante, que não se entrega à submissão e ao controle. Tanto que gato não usa coleira, usa colar.
"na casa
o imperecível mito
se aconchega
quente (macio) ei-lo
em nossos braços"
O cachorro protege a residência, o gato protege a solidão. O cachorro mendiga afeto, o gato seduz com a distância. A sensação é que o cachorro é fofoqueiro, quer contar algo sempre, o gato já é um confidente, que escuta e guarda, protetor dos segredos. Nasceu com a batina no pêlo.
"na casa
o imperecível mito
se aconchega
quente (macio) ei-lo
em nossos braços"
O cachorro protege a residência, o gato protege a solidão. O cachorro mendiga afeto, o gato seduz com a distância. A sensação é que o cachorro é fofoqueiro, quer contar algo sempre, o gato já é um confidente, que escuta e guarda, protetor dos segredos. Nasceu com a batina no pêlo.
Concilia a dupla personalidade com perfeição. Sadiamente bi-polar. Em “Livro de Auras” (Iluminuras, 1994), Maria Lúcia Dal Farra tenta registrar sua rápida transformação, essa metamorfose súbita, a migrar de repente da maior inércia para elasticidade de um acrobata. Define o bichano como "um viveiro de alheios". Está com um olhar aqui, atento aos mínimos movimentos próximos, e outro acolá, em pensamentos longínquos.
Chacal, em sua antologia premiada "Belvedere" (Cosac Naify/7 Letras), traduz essa contemplação suficiente. Nem é bem um olhar, significa uma admiração.
"o gato lhe acompanha
onde quer que você vá
só com olhos
Chacal, em sua antologia premiada "Belvedere" (Cosac Naify/7 Letras), traduz essa contemplação suficiente. Nem é bem um olhar, significa uma admiração.
"o gato lhe acompanha
onde quer que você vá
só com olhos
para ele basta olhar."
Os gatos são os filhos dos tigres de Jorge Luís Borges, netos dos tigres de William Blake. Herdaram a floresta, resíduos elegantes do mato. Sábios, professam sabedorias em fachada de esfinge.
Os gatos são os filhos dos tigres de Jorge Luís Borges, netos dos tigres de William Blake. Herdaram a floresta, resíduos elegantes do mato. Sábios, professam sabedorias em fachada de esfinge.
* sou uma mulher que frequenta telhados.
6 comentários:
... teu mundo cá, está lindo!
muito interessante, e concordo, tenho um pretinho básico, meu confidente e amado Denzel, que está nesse momento deitado ao meu lado, me olhando.
gostei deveras do teu blog.
:D
Não sabia, mas me descobri assim, em telhados. Essa minha mania de querer pegar estrelas.
Moça, aqui é lindo!
Um beijo.
Paulo, Luna e Jaya, tem sabor encontrá-los aqui. Adoro os posts de vcs, o espaço, tudo muito pareciso comigo. Voltem! tem sempre música nova na 'ciranda'.
Bj, bj, bj.
Renata Lu,
Boa crônica poética do Fabrício sobre o gato, esse animal elegante e esquivo.
Mas dócil, muito dócil, quando conquistado.
Beijos,
Marcelo.
Marcelo,
animal exigente sim, entregue após a conquista
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