(porque a tua descrição é o meu sentir)
"Esse o meu filme mais dileto. O filme-revolução da cinematografia brasileira. O meu filme-paradigma íntimo.
Lavoura arcaica arrancou de mim a admiração por Luiz Fernando Carvalho. Desnudou-me a ânsia. A compulsão por Nassar.
No silêncio da tela, o silêncio agudo da terra. A literatura da terra. Corpo bruto vestido de chão. Cinema-entorpecimento.
Ao menos foi essa a cicatriz deixada pelo filme. Algo inacabado em mim encontrou nele o regaço, a acolhida; qual inconsciente que urde na trama dos sonhos, o gozo, a trama da vida. Tudo convergia ao encanto.
Nos próximos minutos a cor me acometeria. Magistralmente a fotografia do filme arderia nos olhos, estampando, por dentro, as brumas mais densas do ser. O enigma, a paisagem, a sucessão. Em cada fotograma, uma entidade viva, embebida da selva literária de Raduan Nassar. Um mesmo e longo mosaico de sinuosidades, cheiros... Estesia.
A experiência do belo ali transposta no horror, na sujeição, na sede do gesto que descerra a origem. A experiência de Lavoura Arcaica é literalmente carnal. Um filme de sinestesias. Com sabor e intensidade próprias. Um gosto de pele a arder no olhar.
Selton Mello, tornado animal de si mesmo, reverbera senões de seu tempo psíquico, de seu instinto, de sua verve de fogo. Na teia discursiva, a história é a história. Os séculos do homem, a busca, o que dorme na vicissitude. O meio e a imaginação. O devir, a licenciosidade. O tornar-se a ser. A não-concreta liberdade.
Lavoura Arcaica foi, a priori, um ensaio para os meus próprios abismos, sutil fronteira demarcada no horizonte do irreal. Um despertar para a Sétima Arte, um mergulho nas folhagens e artérias do mundo-sensação".
(BETA)