26.11.13
22.11.13
I
Vou pôr anúncio obsceno no diário
pedindo carne fresca pouco atlética
e nobres sentimentos de paixão.
Desejo um ser, como dizer, humano
que por acaso me descubra a boca
e tenha como eu fendidos cascos
bífida língua azul e insolentes
maneiras de cantar dentro de água.
Vou querer que me ame e abandone
com igual e serena concisão
e faça do encontro um relatório
ou poema que conste do sumário
nas escolas ali além das pontes
E espero ao telefone que me digam
se sou feliz, real, ou simplesmente
uma espuma de cinza em muitas mãos.
António Franco Alexandre
Vou pôr anúncio obsceno no diário
pedindo carne fresca pouco atlética
e nobres sentimentos de paixão.
Desejo um ser, como dizer, humano
que por acaso me descubra a boca
e tenha como eu fendidos cascos
bífida língua azul e insolentes
maneiras de cantar dentro de água.
Vou querer que me ame e abandone
com igual e serena concisão
e faça do encontro um relatório
ou poema que conste do sumário
nas escolas ali além das pontes
E espero ao telefone que me digam
se sou feliz, real, ou simplesmente
uma espuma de cinza em muitas mãos.
António Franco Alexandre
12.11.13
Querido _ .
O tempo me ensinou a esquecer os ossos velhos.
Tudo parecia poético e cercado de delicada fúria. O elo se desfez na dança dos dias. Não havia mais sedução, nem ânsias. Eu de desgostosos beijos. Eu enfadada pela descrença.
Onde foram parar as lavas do desejo ou as borboletas dos meus olhos?
Tu partirias.
Eu já estava vazia de ti
L.
O tempo me ensinou a esquecer os ossos velhos.
Tudo parecia poético e cercado de delicada fúria. O elo se desfez na dança dos dias. Não havia mais sedução, nem ânsias. Eu de desgostosos beijos. Eu enfadada pela descrença.
Onde foram parar as lavas do desejo ou as borboletas dos meus olhos?
Tu partirias.
Eu já estava vazia de ti
L.
Canção - Murilo Mendes
Para o Oriente do amor
Meus sentidos aparelham.
Bandeiras azuis, vermelhas,
Cruzaram-se no horizonte.
De onde vem tal embriaguez,
Que aurora terei tomado?
Vem do fundo de mim mesmo,
Vem da minha alma correndo.
Minha amada na varanda
Arrulha, me faz sinais.
Voo com abril nas mãos,
Para continuar o ciclo
De antiga revolução:
Aboli as dissonâncias,
O sentimento renasce
Como no início do mundo.
(Livro: As metamorfoses - 1938)
Para o Oriente do amor
Meus sentidos aparelham.
Bandeiras azuis, vermelhas,
Cruzaram-se no horizonte.
De onde vem tal embriaguez,
Que aurora terei tomado?
Vem do fundo de mim mesmo,
Vem da minha alma correndo.
Minha amada na varanda
Arrulha, me faz sinais.
Voo com abril nas mãos,
Para continuar o ciclo
De antiga revolução:
Aboli as dissonâncias,
O sentimento renasce
Como no início do mundo.
(Livro: As metamorfoses - 1938)
não colher as mãos, alimentar os objectos.
tocá-los devagar, deixando o fio correr desde
o ar até à ponta dessa sombra onde repousa
o mundo. tenho a certeza de que algo se
mexe no silêncio. olho uma vez. olho uma vez.
sei que falas com as coisas. que tens um pacto
com as rãs, outros pequenos animais, certos verdes
hereditários gestos. que nem que quisesses me
poderias contar. e sei de tudo limpo e é para ti que
inclino as mãos quando percorro as cidades e as
esqueço. esta pequena saudade é uma floresta
de silêncios. sou capaz de adormecer sobre o fogo.
Rui Costa
tocá-los devagar, deixando o fio correr desde
o ar até à ponta dessa sombra onde repousa
o mundo. tenho a certeza de que algo se
mexe no silêncio. olho uma vez. olho uma vez.
sei que falas com as coisas. que tens um pacto
com as rãs, outros pequenos animais, certos verdes
hereditários gestos. que nem que quisesses me
poderias contar. e sei de tudo limpo e é para ti que
inclino as mãos quando percorro as cidades e as
esqueço. esta pequena saudade é uma floresta
de silêncios. sou capaz de adormecer sobre o fogo.
Rui Costa
No meio-dia te penso
Íntima te pretendo.
Incendiada de mim
Contigo morrendo
Te sei lustro marfim e sopro.
E te aspiro, te cubro de sussurros
Me colo extensa sobre tua cabeça
Morte, te tomo.
E num segundo
Ouvindo novamente os sons da vida
Nomes, latidos, passos
Morte, te esqueço.
E intensa me retorno sob o sol.
H.H in Da morte. Odes mínimas
Íntima te pretendo.
Incendiada de mim
Contigo morrendo
Te sei lustro marfim e sopro.
E te aspiro, te cubro de sussurros
Me colo extensa sobre tua cabeça
Morte, te tomo.
E num segundo
Ouvindo novamente os sons da vida
Nomes, latidos, passos
Morte, te esqueço.
E intensa me retorno sob o sol.
H.H in Da morte. Odes mínimas
6.11.13
Querido E.
Acordei com o frescor da manhã.
Os caminhos tem flores e sigo a infinita procura
Tenho recordações das nossas tardes de estação e perco-me nas lembranças.
Tem cuidado comigo,
essa alma peregrina.
Toca-me, apenas, enquanto respiras.
Conta-me do teu humano desejo.
Encaixa os teus sentidos nos meus inventos.
Com todo amor,
Sofia.
* um escrito dedicado ao espetáculo ESQUIZOFRENIA, que arrastou-me para águas profundas. — com Morgana Poiesis e Carona Teatro Itinerante.
Acordei com o frescor da manhã.
Os caminhos tem flores e sigo a infinita procura
Tenho recordações das nossas tardes de estação e perco-me nas lembranças.
Tem cuidado comigo,
essa alma peregrina.
Toca-me, apenas, enquanto respiras.
Conta-me do teu humano desejo.
Encaixa os teus sentidos nos meus inventos.
Com todo amor,
Sofia.
* um escrito dedicado ao espetáculo ESQUIZOFRENIA, que arrastou-me para águas profundas. — com Morgana Poiesis e Carona Teatro Itinerante.
Senhor…
Senhor, o amor é uma coisa que mete medo
não sabeis pois que se trata de um trabalho difícil
exige uma coragem e uma fé além do improvável
uma humanidade indizível
uma fraternidade cega
dinheiro e garrafas
crianças ao acaso
olhares nem sequer fulminantes
e charcos de céu
e festas campestres
quando o tempo permite
o amor quer idas à pesca, patins e chocolate negro
o amor quer a curva suave e a facilidade
é tão difícil, Senhor
não poderia descrevê-lo
em toda a sua volúpia
para lá dos seus mártires
e dos seus desastres hipócritas
o amor é pleno de alegria
e segue o seu caminho
na névoa dos primeiros passos
na roupa pendurada no inverno
na corda tensa
vai para onde calha
e muito lentamente
lentamente demais o amor segue
como um ouriço do mar oco cheio de areia
como um botão que se deixa por coser
é miserável
é uma pluma
move-se ao vento
quando o coração bate
é esplêndido lavado pela maré
mesmo na maré odiosa
é onda
e é belo
é onda e é belo e cheio de algas
é o silêncio
é a luz
uma coisa assim vulgar
hélène monette via Blogue poesia
Senhor, o amor é uma coisa que mete medo
não sabeis pois que se trata de um trabalho difícil
exige uma coragem e uma fé além do improvável
uma humanidade indizível
uma fraternidade cega
dinheiro e garrafas
crianças ao acaso
olhares nem sequer fulminantes
e charcos de céu
e festas campestres
quando o tempo permite
o amor quer idas à pesca, patins e chocolate negro
o amor quer a curva suave e a facilidade
é tão difícil, Senhor
não poderia descrevê-lo
em toda a sua volúpia
para lá dos seus mártires
e dos seus desastres hipócritas
o amor é pleno de alegria
e segue o seu caminho
na névoa dos primeiros passos
na roupa pendurada no inverno
na corda tensa
vai para onde calha
e muito lentamente
lentamente demais o amor segue
como um ouriço do mar oco cheio de areia
como um botão que se deixa por coser
é miserável
é uma pluma
move-se ao vento
quando o coração bate
é esplêndido lavado pela maré
mesmo na maré odiosa
é onda
e é belo
é onda e é belo e cheio de algas
é o silêncio
é a luz
uma coisa assim vulgar
hélène monette via Blogue poesia
Assinar:
Postagens (Atom)