30.1.10

Hoje amanheci chuva

olhos molhados do descanso
corpo vazio das horas
em dias assim
 manhã parece noite
acordo silêncio

27.1.10

Benditas


Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei

Benditas coisas que não sejam benditas
A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre 

o amor não mente,
não  mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma.

25.1.10

 













 


"...
Sentada
com as pernas em cruz
largou-se a sorrir feito louca
jurando que era santa
e provava o milagre
a quem lhe pagasse pra ver:
tirava leite de pedra,
água de pau, melaço de carne
e prometia o paraíso
a quem lhe alcançasse
o céu
da boca

24.1.10

além da brincadeira

Eu quero alguém que quando acabe fevereiro
O ano inteiro venha comigo morar
Quero um amor que vá além da brincadeira
E que depois da quarta-feira
Ainda queira namorar


Simplesmente Mulher




Tantas, sou só uma e sou tantas
Sou devassa e sou santa
Recatada e vulgar
Louca,tão centrada e tão louca
Degustando em tua boca
As delícias de amar
Me respeita e me abusa
Me ame como quiser
Simples demais ou confusa
Sou simplesmente mulher

23.1.10

Finzinho da chuva



Tão assim
Ventania, invadiu,
Varreu jogou tudo pro ar
Espalhou - nós na casa vazia

Como assim...
Tempestade transbordou
Jorrou levou na enxurrada tristeza aqui tão parada

E luar ao redor cheiro forte de rosa
Trama no escuro da noite a nos envolver
Pra ver
Nossa dança ao som do finzinho da chuva
Dando desculpas pro dia nao amanhecer
Pra que?

Que esses ventos
Tão bem vindos
Fizessem meus
Teus olhos
Noite a dentro
Paz de herança
Nos teus braços
Sou eu


22.1.10

Ondulações


Desenha o teu corpo no meu
abocanha os meus sentidos
 segue
ondas de calor e gozo
mudar a voz e a pele
camuflada no teu ser

21.1.10

Sua benção Vinícios















   


Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão

18.1.10

Entrega



















Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

17.1.10

No sol levante


Ausência instalada
sentida
coração segue o descompasso
No tempo que não lhe tenho
vento que sopra faz frio
Me abraça 
carrega
o teu corpo para minha
casa

15.1.10

Você e o mar


entre o teu oceano e o meu
água que escapa e vai
respiramos fundo
sorrimos música
mania do querer
até em baixo d´água


11.1.10

Cheiro de flor quando rí


Por Ana Jácomo

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida. E sinta vontade de escrever poemas. Deixar florir pelo corpo os sorrisos que nascem no coração. Nesse mistério que nos faz olhar a mesma imagem inúmeras vezes, sem cansaço, mesmo nos instantes em que é feita de papel ou de memória. Que nos faz respirar feliz que nem folha orvalhada. Querer caber, com frequência, no mesmo metro quadrado onde a tal vida está. Cantarolar pela rua aquela canção que a gente não tinha a mínima ideia de que lembrava.

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba ao encontrá-la que sentia saudade dela antes de conhecê-la. Estive pensando nesse mistério que faz com que aquela vida que acaba de encontrar a nossa nos deixe com a impressão de estar no nosso caminho desde sempre, como se fosse um sol que esteve o tempo todo ali e a gente somente não o ouvia cantar. Nesse mistério que nos faz trocar buquês dos olhares mais cuidadosos. Que nos faz querer cultivar jardins, lado a lado. Nesse mistério que faz com que a nossa vida queira um bem tão grande à outra vida, que vai ver que isso já é uma prece e a gente nem desconfia.

Estive pensando nesse mistério lindo que você é para alguém e alguém é para você ou que ainda serão um para o outro. Nessa oportunidade preciosa dos encontros que nos fazem crescer no amor também com o tempero bom da ludicidade. Nesse clima de passeio noturno em pracinha de cidade pequena. Nessa paz que convida o coração pra se recostar e repousar cansaços. Nesse lume capaz de clarear um quarteirão inteirinho da alma. Nesse abraço com braços que começam dentro da gente. Nessa vontade de deixar o mundo todo pra depois só para saborear cada milímetro do momento embrulhado pra presente.

Estive pensando nesse mistério que não consigo desvendar. Nem tento.

9.1.10

o ímpar que há nos pares


Dopava-se
insistentemente
com as drágeas
do amor.
Efeitos colaterais
rasgavam-lhe
os sentidos.
Amor,
lascinante,
amor,
entorpecente,
ópio.

8.1.10

6.1.10






















Essa minha pele
indígena
carregada em ritos e rituais
adornada
ancestral
adormece sol
amanhece
ventania


1.1.10