23.2.13

BILHETE


Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim...

[Quintana]

22.2.13

III


E depois


amor - tecê - los

II

LETRA DESENHADA
EM TINTA 




QUE FICOU

I

DESORIENTO 


A SENSAÇÃO DE CONFORTO





SOBRE A PELE



nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto 

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa 

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte; 

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira 

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas 

e. e. cummings.

( tradução: Augusto de Campos )

20.2.13

Sensorial





Porque sei ser só comigo 

Sou minha embriaguez
estou entregue aos sentidos
e não faz sentido me multiplicar
Sou interna

19.2.13

LÁGRIMAS NEGRAS

Lágrimas negras caem, saem, doem
São como pedras de moinho que moem ♪
Roem, moem
E você, baby
Vai, vem,vai

18.2.13

Mutações



O círculo se fechou.
Nada termina jamais. Onde quer que alguém plante raízes brotadas do seu eu mais puro ou verdadeiro, ali encontrará um lar.





Nada mais pode me ferir.


Entre a linha da vida e do coração. 
bordei o sol



17.2.13

Notas florais



Nas veias brancas do dia
sobre o suspiro da manhã
abriu-se do silêncio
a fonte secreta


Puro plexo de energia

nos teus olhos de horizonte
e evidências solares

Sorvi a saliva doce da tua boca 

colocando o meu ventre
sobre o teu corpo livre

Borboletamos o desejo

em  líquido cristal
cintilante

Inseparáveis do céu

debrucei-me 
úmida ao chão

Flor do vento



Atravessamos os poros
embalados pelas
pálpebras


Germinamos o amor
gotejando lágrimas
ritmadas

E na secreta alcova

exalamos
o aroma
das maçãs

No sol levante

 Por muito tempo voei no vasto campo do céu, caminhei sem rumo entre as estrelas como quem procura... Enfrentei vento de tempestade como quem sabia aonde ia... Descansei sob a lua como quem espera. Só quando lhe encontrei, eu soube que era você que eu procurava.






"Pra se ter um amor sem tamanho num se fica medindo os meio.
 Num se tem coisa grande com coragem pequena"





15.2.13

A menina que sabe jardim



foram meses e meses de espera

nada foi possível

sem você aqui 

cantei a solidão

beijei o vão

 silenciei o sentir


Volta na próxima estação

traz um beijo

e um punhado

de amor


te  
espero

Flor.



[...] porque ela conversa com beija-flor
e quando eu morrer
e me tornar beija-flor
quero ter com ela
nos sonhos e no jardim.

[Ribeiro Pedreira]

Abismo


Um gesto sem paisagem
sem horizonte ou casa
sem o outro
não chega a ser um gesto
será talvez um esgar
um grito que sufoca
tal como um rio se perde
sem as suas margens

14.2.13

Sedução

A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.

13.2.13


florzinha


amar.é.linha




amor.

as igrejas aqui são escuras. chorei com as cores que inventou. de saudade da luva que agarrada a mim se perdeu. distraída, atravessei o caminho de uma língua que desconheço. é bom sentir. amanhã sera dia dos namorados. pensei numa florzinha amarelinha, suave, que resiste ao frio. 
comprei 7 livros, vazios, de folhas em branco, e lápis com vertigem de pedras esculpidas de tempo. aqui a cidade se esquece. e o grafite é delicado como você. 

seu toque. 

fez os vitrais explodirem em lagrimas. cedo volto. quando nunca, pra sempre.

com amor.

d.


(Dani Carrara)

A VOZ QUE RASGOU POR DENTRO





um eco 



oco no corpo 




molho-me de lágrimas 




para não secar os sentidos

11.2.13


"O fluxo obriga 
qualquer flor 
a abrigar-se em si mesma 
sem memória" 

Orides Fontela



Algumas escolhas nos causam uma espécie de morte lenta

[a flor do campo]





rasgar a pele dos silêncios em tintas outras
que não palavras
cores e espantos [ mãos calejadas
de antigas urdideiras
fiar a flor colhida ainda há pouco
no campo do sentir
áspero fio que faz sangrar a carne e tinge
a roupa de carmim. 
[... e canta

(Nydia Bonetti)

10.2.13

Drummond



Amor é bicho instruído

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã...

“Amor é bicho instruído”, de Carlos Drummond de Andrade (1902–1987).

7.2.13

Monique Kessous - Bloco do Prazer

E quem não vai querer


Pra libertar meu coração


Eu quero muito mais

Que o som da marcha lenta

Eu quero um novo balancê

E o bloco do prazer

Que a multidão comenta
Não quero oito e nem oitenta
Eu quero o bloco do prazer
E quem não vai querer?







Mamã mamãe eu quero sim
Quero ser mandarim
Cheirando gasolina
Na fina flor do meu jardim
Assim como carmim
Da boca das meninas
Que a vida
 arrasa e contamina
O gás que embala o balancê




Vem meu amor feito louca

Que a vida tá pouca

E eu quero muito mais

Mais que essa dor que arrebenta

A paixão violenta
Oitenta carnavais



Tem a chuva

e as gotas

e a fome


porque não comê-las?



Duo


TOM

manhã fluida
no branco
amanhecer
flor de cacto

notas
de orvalho

umidade
serena
sol maior

[Renata Luciana]



SEMITOM


manhã sem uma pétala
que dissolva orvalhos
cores notas



erudito sol 
acorda melodias em mi
menor

[Ribeiro Pedreira]

6.2.13

Rapte-me

Rapte-me camaleoa
Adapte-me a uma cama boa
Capte-me uma mensagem à toa
De um quasar pulsando lôa
Interestelar canoa...


5.2.13

Liberté


Pega-me tu ao colo

E leva-me para dentro da tua casa

Despe meu ser cansado e humano

E deita-me na tua cama
E conta-me histórias, caso eu acorde
Para eu tornar a adormecer
E dá-me sonhos teus para eu brincar.
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.


4.2.13

Apenas Clarisse




"Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida.  Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. 
Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?
E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema [...]



O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."

3.2.13

2.2.13

2 de fevereiro


As águas do meu mar são densas, contínuas, fortes, e profundas. E como uma grande onda me arrebatam para o novo ciclo que sempre vem.

Odô Ya





'quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar'