30.4.10

Sua


















É certo acordar amanhã sentindo o teu cheiro e não mais o meu

É certo estar envolvida por tuas asas e não mais sentir o frio do meu lugar

Vou em busca do teu querer

26.4.10

Filme de cabeceira

 
(porque a tua descrição é o meu sentir)

"Esse o meu filme mais dileto. O filme-revolução da cinematografia brasileira. O meu filme-paradigma íntimo.
Lavoura arcaica arrancou de mim a admiração por Luiz Fernando Carvalho. Desnudou-me a ânsia. A compulsão por Nassar.
No silêncio da tela, o silêncio agudo da terra. A literatura da terra. Corpo bruto vestido de chão. Cinema-entorpecimento.
Ao menos foi essa a cicatriz deixada pelo filme. Algo inacabado em mim encontrou nele o regaço, a acolhida; qual inconsciente que urde na trama dos sonhos, o gozo, a trama da vida. Tudo convergia ao encanto.
Nos próximos minutos a cor me acometeria. Magistralmente a fotografia do filme arderia nos olhos, estampando, por dentro, as brumas mais densas do ser. O enigma, a paisagem, a sucessão. Em cada fotograma, uma entidade viva, embebida da selva literária de Raduan Nassar. Um mesmo e longo mosaico de sinuosidades, cheiros... Estesia.
A experiência do belo ali transposta no horror, na sujeição, na sede do gesto que descerra a origem. A experiência de Lavoura Arcaica é literalmente carnal. Um filme de sinestesias. Com sabor e intensidade próprias. Um gosto de pele a arder no olhar.
Selton Mello, tornado animal de si mesmo, reverbera senões de seu tempo psíquico, de seu instinto, de sua verve de fogo. Na teia discursiva, a história é a história. Os séculos do homem, a busca, o que dorme na vicissitude. O meio e a imaginação. O devir, a licenciosidade. O tornar-se a ser. A não-concreta liberdade.
Lavoura Arcaica foi, a priori, um ensaio para os meus próprios abismos, sutil fronteira demarcada no horizonte do irreal. Um despertar para a Sétima Arte, um mergulho nas folhagens e artérias do mundo-sensação".

(BETA)

23.4.10

18.4.10

LÁ NA CASA DOS CARNEIROS

A casa dos carneiros abre as portas para receber aqueles que fazem da viola caipira um dos instrumentos mais populares do país. A arte que representa o nosso chão, uma música que acaba por traduzir a alma de nossa gente. Elomar convidou à Casa dos Carneiros sete violeiros: Pereira da viola, Miltinho Ediberto, Décio Marques, Xangai, Mão Branca e o maestro João Omar para  celebrar o canto dos violeiros, os poetas populares. Uma mostra da indescritível noite de ontem, aqui no Povoado da Gameleira

16.4.10


















Essa mulher é uma casa secreta.
Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas.
Nas noites de inverno, jorra fumaça.
Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais.
Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia. Nessa
casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me
beberá. Muito suavemente bato na porta, e espero.

Eduardo Galeano

15.4.10

A partitura das horas

(Para Tute)
















Dos homens que me antecederam
todos se ausentaram do pai ao avô


tu
acomodou-se em todos esses lugares
e agora te ausentas do corpo
para o corpo recuperar-se


tu
contador de histórias
visitou os meus pés
os pés... são as raízes do corpo

respiras
volta
para escrever o sol
dentro de mim há uma casa que te espera


14.4.10

Facilidade do Ar


Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.


António Ramos Rosa

10.4.10

8.4.10

Cúmplice


 
 Era verão e você entrou em meu blog. Leu todos os meus textos e girou. Efeito colateral. O que eu fiz em você sem saber? O que você fez em mim depois sabendo? Tudo, muito. E assim começou e não sei onde irá terminar. Falo com você ao telefone todas às noites, e seguimos entre torpedos e webcam. Você fala sobre sua vida; eu digo sobre a minha. Você escreve poemas; eu escrevo meus afetos. Eu apresentei à família a você; você mostrou minhas fotos para sua família, seus amigos. Você canta, sorri, eu ouço, alegre. Discutimos sobre amor, e a vida; divagamos sobre o passado que não existe, o presente que nos consome, o futuro que nos engloba. Você viaja nas asas de uma águia para minha cidade; eu viajo para a sua.Você me quer, eu te desejo. Você é 'cheff '; eu esquento o pão. Você é meu complemento; eu sou seu suplemento. Fazemos sexo. Brincamos. Ardemos. Você tem um jeito que eu gosto. Eu olfativa,  acompanho rastros de perfumes, você molhou o corpo em nova essência. Lê minhas palavras soltas, se ‘entrega’, na entrega, e nos juntamos nesse ‘estado’. Ficamos com saudades; comemos a saudade. Choramos juntos. Seu cérebro armazena letras de música; eu observo, leio, assisto filmes concentrada; você se excita nos filmes e me excita. Você quer me respirar; eu quero-lhe transpirar. Inspirar e respirar. Fazemos amor. Você goza, eu gozo, nós gozamos. Eu sou doce como bala; você chupa a bala até com papel. Você é intenso; eu sou profunda.  Eu recebo cantadas idiotas; você recebe elogios suspeitos. Eu sou Renata, Luciana, e todas as mulheres ocultas em minha pele; uma tribo na sua vida, um rizoma. Somos nômades por excelência. Eu  focada; você disperso. Eu fico molhada; você ensopado. Eu cuido do meu jardim; você me apresenta a flora. E é tanto céu e tanto ar, que nos lançamos na imensidão.

5.4.10

Leite derramado


 “Em silêncio nos olhávamos por cinco, dez minutos, ela com as mãos na altura dos quadris, agarrando,torcendo a própria saia.E corava pouco à pouco até ficar bem vermelha, como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol.
A um palmo de distância dela, eu era o maior homem do mundo, eu era o Sol"


Chico Buarque