31.12.09

Vem chegando


Hoje vou de flor no cabelo
Perfume de alfazema

para te escrever 

flores na casa 
vem receber

rede na varanda

Vem chegando
mais dias
noites claras

canto do acordar
passáros na janela
Vem chegando
feito música
queimando meus pés
rodopiante



2010 fazendo morada

29.12.09

Memórias


"Perdi o senso, talvez por ouvir e ver estrelas... E perdi-me na noite da existência esperando que o universo me visse, ou que ao menos uma estrela me caísse... E caiu no meu céu, mas só ficou o clarão que desenhou nos ares um desejo... Só ficou pra mim um lampejo... Um lampião sertanejo... luz que dos olhos, fogueira de dentro da caverna, fantasiam histórias e roteiros desnudos, de personagens mudos, loucos, sábios, marginais, castos, cegos visionários, meros funcionários, pobres mortais... Saiba, que toda vez que teus olhos de mim se fecha, a noite cai"...

E toda vez que te lembro, a lua sai"...

26.12.09

simples assim...


quero sopro de vento,
mágico,
molhado,
doce,

ternura no ar.

Onde?

 

Entre o sono e o sonho

















Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.


Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

22.12.09

a peleja do Natal com o Ano Novo


 
a todos os amigos que encontrei aqui
eu entrego:
o meu sorriso,
o meu olhar,
os meus gestos
e a minha gratidão.
QUE EM 2010 POSSAMOS VIAJAR JUNTOS NESSE ESPAÇO VIRTUAL 
GIRANDO

vem que eu te quero torto


 
"ando a ter vontade de jardim
daquelas que crescem
como crianças
e constituem moradas
onde eu possa
com carinho e cuidado
aproximar-me
e passar horas do dia
a tecer fios de segredos
e a dormir por entre
flores e sonhos"

(inspiração do meu amigo Paulo lá do coisas do chão)

20.12.09

Quando o corpo fala



















Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara
Minha cara minha cuca ficar odara
Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dara

17.12.09

Lugar

Meu Brasil Brasileiro!

un cheiro de alfazema,
de café
de alecrim ...
de pão de queijo ....
de feijão tropeiro ...
de queijo com banana , canela e açúcar....‏
o barulho da rua
o calor que assombra.
o ônibus lotado ...
o povo barulhento, alma generosa ...
a cantoria bem brasileira ...
a vida... nossa  !
que alegria !!

16.12.09

Voar


- Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?
- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe . . .
Voltei, te trouxe a alegria.
- Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.
- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia . . .

- E esqueceste Pernambuco,
Distraída?

- Voei ao Recife, no Cais
Pousei na Rua da Aurora.

- Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!

- Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.

(Manuel Bandeira)


14.12.09

Revelações


"Não temas, não quero possuir-te. Alço-me em direção de tua superfície que já é perfume.
Alço-me até atingir minha própria aparência. Empalideço nessa região assustada e fina, quase alcanço tua superfície divina . . ."

13.12.09

Corridinho

 
O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,

com seus olhos cediços,

põe caco de vidro no muro

para o amor desistir.

O amor usa o correio,

o correio trapaceia,

a carta não chega,

o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,

desembarca do trem,

chega na porta cansado

de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,

pede água, bebe café,

dorme na sua presença,

chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:

é descuidar, o amor te pega,

te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.



Homenagem a Adélia Prado pelo seu aniversário  dia 13 de dezembro.

11.12.09

Deitando com a chuva

É tempo de meio silêncio,
De boca gelada e suspiro,
De palavra indireta, aviso na esquina.
Tempo de cinco sentidos num só.

Drummond

10.12.09

Graça (en) graça


 

 

 

 

AQUI (ou Memórias do Cárcere)

(Cordel do Fogo Encantado)

Vou
vou pregar na parede
um pedaço de céu
que você me mandou
Vou buscar
outra constelação
entre a noite que vai
e o dia que vem
Eu canto, aqui, eu olho daqui, eu ando
Aqui, eu vivo
Canto, aqui, eu grito
Aqui, eu sonho
Aqui, eu morro
Morro
Vou
vou riscar no meu braço
um pedaço de mar
que você me deixou
E criar
outra recordação
do primeiro lugar
que acordei pra te ver.
Eu canto, aqui, eu olho daqui, eu ando.
Aqui, eu vivo
Canto, aqui, eu grito
Aqui, eu sonho
Aqui, eu morro
Morro


3.12.09

Deusas Ancestrais



assim começa a  história do nosso

universo feminino

da fibra que nos origina


nos transporta ao tempo



das fêmeas que nos habitam


Delírios. Devaneios. Posturas.




Imposturas. Errâncias...

instinto ancestral


nossos olhos de vidro


Cada uma a seu tempo primas-irmãs

1.12.09

Câmera



As pessoas falam coisas. E por trás do que falam há o que sentem. E por trás do que sentem há o que são. E nem sempre se mostram.


30.11.09

Alegria! Alegria!

pinta os lábios  
desata o meu sorriso

 espalha no meu corpo


 o teu malabarismo




 Brinca intensamente comigo





26.11.09

Divã


  Há muito não percebia a ausência do movimento
corpo
entrega
caminhante
inspira preenchendo os vazios

  rigidez
modelada
 entorta-se com a suavidade
do sopro


22.11.09

Inconsciente


 Dentro da fêmea Deus pôs
Lagos e grutas, canais
Carnes e curva e cós
Seduções e pecados infernais
Em nome dela, depois
Criou perfumes, cristais
O campo de girassóis
E as noites de paz

pensando no ontem




Ainda contemplativa......
percorrendo as palavras ditas, a minha identificação com a canção, as muitas que sou,  aquilo que sempre me revela, ao tempo que passo alí, extraindo o sumo da minha essência.

"Carolina, nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo

Eu já lhe expliquei, que não vai dar
Seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo. pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu

Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor
O amor que já não existe

Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela
E só Carolina não viu"

21.11.09

As figuras do feminino na canção de Chico Buarque




*Interessadíssima em alcançar essa leitura, essas imagens, essas composições.

tão vasto e tão simples , anucia o teu querer Chico,  o teu interesse em nós, nos desperta os sentidos.

"querer entender e não entender nunca" ( Chico Buarque de Holanda)

20.11.09

Cerimônia do chá




















Finalizo a noite tomando chá, embriagando-me de aroma e paz. Silêncio em casa, aconchego. As palavras não eram esperadas, nada mais que isso.

Sensações



Dezoito anos, recordo o ar morno daquela tarde, a fotografia do filme me enebriava, hoje, o encontro se deu por acaso, suas imagens continuam editadas em minha memória

19.11.09

Por trás da máscara



"Nós buscamos outras realidades porque não sabemos
como desfrutar da nossa; e saímos de dentro de nós mesmos
pelo desejo de saber como é o nosso interior."

Montaigne

16.11.09

Sebinho




 

* Essa canção é para celebrar a chegada dos 'arcanjos'. Amigo, para você que tanto quanto eu , gosta dos sons do universo.

13.11.09

Corda Bamba








com 'chorinho' na alma termino a minha noite de sexta, BAMBA de prazer, com o corpo cansado e o pensar leve...
Pisando em cordas.

Monólogo de Orfeu



Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
E' mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu
, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa fôrça, essa coragem
Esse orgulho de rei
. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido

E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que êle, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!

Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!


* Esse monólogo é um dos meus 'retalhos', o mito, o despojamento, a entrega, o encantamento . 

11.11.09

Incertezas

 " ela guardou as dores no corpo
e vestiu um poema barato.
Restava-lhe abrir janelas.
Era certo que em algum
lugar uma nova vida
amanheceria ".

 

3.11.09

Davi











 Pequenino, como as coisas raras...  Grande, como só o amor pode ser!
Ele é a face tocável do amor... a causa... a conseqüência! Amor que vira vida! Milagre que a generosidade de Deus coloca ao nosso alcance, milagre menos para ser entendido e muito mais para ser amado! 

Desejo a você DAVI, um olhar curioso, uma boca prudente. Desejo a inteligência e o engenho. Que receba desse mundo mais honestidade; que saiba que o sorriso - como as flores de Vandré - pode, sim, vencer o canhão! Que a gentileza nunca sai de moda e que felicidade funciona como espelho... o que fazemos de bom, reflete e volta para nós... O teu nascimento representa a vontade de transformar nosso mundo (esse que sentimos e tocamos e vivemos de verdade nosso dia a dia) em um lugar no qual possamos distribuir mais sorrisos sem qualquer intenção... Um futuro como promessa onde cabe tudo que ainda não aconteceu a você.  

29.10.09

Intervalo



















Identifiquei tua chegada
pelas seis primeiras notas
dos teus passos, leves como
o intervalo das notas numa
harpa.

Identifiquei tua chegada
pelas pausas entre as tuas
pisadas, e por minha respiração
entrecortada.

Identifiquei tua chegada
pelo ruído de teus dedos
coçando as unhas recém
pintadas de rosa salpicado
de prata.

Identifiquei tua chegada
logo que meus olhos
marejaram,
antes que eu pudesse
ver sombra vulto ou
silhueta.

Identifiquei tua chegada
pela rispidez da paz que
se me impôs, assim, do
nada.


(Marcelo Novaes)



23.10.09

Pretinho Básico


(por Fabrício Carpinejar)

Ter um gato perto é quase uma escolha filosófica, uma postura reflexiva. Ganhou o eleitorado lírico pela sua independência e cotidiano autônomo. Por circular entre mundos. Pelas sete inesgotáveis vidas. Como parece que não está nem aí para o que está acontecendo, excita a meditação e os símbolos. O gato já é um poema naturalmente, inescrutável, dono de uma discrição absoluta. Facilita inúmeras interpretações.
A paulista Orides Fontela (1940-1998) demonstrava um fascínio pelas criaturas de bigodes, investigou seu domínio misterioso tanto em "Helianto" (1973) quanto em "Teia" (1996). Considerava o animal como um visitante, que não se entrega à submissão e ao controle. Tanto que gato não usa coleira, usa colar.

"na casa
o imperecível mito
se aconchega
quente (macio) ei-lo
em nossos braços"


O cachorro protege a residência, o gato protege a solidão. O cachorro mendiga afeto, o gato seduz com a distância. A sensação é que o cachorro é fofoqueiro, quer contar algo sempre, o gato já é um confidente, que escuta e guarda, protetor dos segredos. Nasceu com a batina no pêlo.

Concilia a dupla personalidade com perfeição. Sadiamente bi-polar. Em “Livro de Auras” (Iluminuras, 1994), Maria Lúcia Dal Farra tenta registrar sua rápida transformação, essa metamorfose súbita, a migrar de repente da maior inércia para elasticidade de um acrobata. Define o bichano como "um viveiro de alheios". Está com um olhar aqui, atento aos mínimos movimentos próximos, e outro acolá, em pensamentos longínquos.

Chacal, em sua antologia premiada "Belvedere" (Cosac Naify/7 Letras), traduz essa contemplação suficiente. Nem é bem um olhar, significa uma admiração.

"o gato lhe acompanha
onde quer que você vá
só com olhos

para ele basta olhar."

Os gatos são os filhos dos tigres de Jorge Luís Borges, netos dos tigres de William Blake. Herdaram a floresta, resíduos elegantes do mato. Sábios, professam sabedorias em fachada de esfinge.

*  sou uma mulher que frequenta telhados.



Caminhar... Caminhar













Toda sua infância fora franzida pelo ar frio que doía o nariz com gélido ardor; via a si mesma como de longe, pequena [...] Tendo experimentado a doçura da fascinação e da obediência ardente [...] e fraca ansiava agora entregar-se a força de outro destino. Lispector

Lejos / lejos

20.10.09

Excessos






Deixar-se morder é a condição lenta de dissolvência
. Simples assim. O resto é silêncio.

17.10.09

"Olaria Portuguesa: Do Fazer ao Usar"


Talvez o encanto da olaria seja derivado da magia da sua criação. O sabermos ter sido, numa fase de gestação, matéria dúctil que facilmente obedece ao tacto das mãos, que se pode modelar e voltar a modelar, e que, pela acção do fogo se transforma em matéria consistente, imutável, mas, simultaneamente, frágil e quebradiça.

Talvez o encanto da olaria seja sensorial. Uma bela peça de barro, como uma bela peça de escultura, convida-nos a senti-la, a afagá-la, a passar sobre ela as mãos, sentindo o seu peso, a sua ondulação, a rugosidade ou a maciez da sua superfície.

Talvez o encanto da olaria seja derivado da beleza das formas que possui, originadas nos gestos de muitos homens, nos usos de outros tantos, que foram apurando as formas, que foram afeiçoando o imperfeito até transformar as peças em autênticas obras-primas.

(pelas palavras trocadas com aquele que cuida dos versos e reversos da minha alma)

Rastrelli Cello Quartett Piazzola

Diagnóstico

"Não sou reta
Gosto da madrugada
Me encanto
com peculiaridades,
dispenso formalidades,
admiro a sensatez
_ e quem a deixa às vezes,
com honestidade -
Prefiro sempre viajar
Nem que seja
com um vinho bordeaux
Não vivo na superfície
Recuso o que não me toca

Mas meu corpo deseja mais
do que minha cabeça pode
E minha cabeça pensa mais
do que o meu corpo suporta

Não posso me apaixonar
Porque sou viciada"

13.10.09

Tempo

-Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
-Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.
-O tempo existe, sim, e devora.
-Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
-Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.


Caio Fernando Abreu in "O Dia que Júpiter encontrou Saturno"

Capítulo XX - Intimidade



nos lugares que percorro, haverá sempre esse sorriso fácil e que vc conhece, uma lágrima doce, rugas, um olhar de sono e outro de acordar, um suspiro, um delírio e uma voz que haverá sempre de contar aos meus pensamentos a nossa história.

in Bernardes