18.11.11

Areia e Água



I

Era uma vez dois e três.
Era uma vez um corpo
E dois pólos: alto muro
E poço. Três estacas
de um todo que se fez
num vértice, diáfano,
noutro espessura de rês
couro, solo cimentado
nem água, nem ancoradouro.

II 

E certa longitude
Onde o sol se refaz.
E certa latitude, seta-ilha
Onde o meu peito pulsa
Seta e sangue
num percurso pasmado de agonia.

III

Aqui me vês dois pólos
tão distantes e no entanto
Três: eu e meus dois horizontes

24.10.11

A flor de sal e o poeta

"quando eu aprender a ser, ainda estarei em pleno gozo dos atributos do querer e terei ao lado quem me quer. quando chegar com flores não significa que já aprendi a ser, todavia quando eu aprender a ser, certamente permanecerei a chegar com flores. quando eu aprender a ser, o que serei a não ser um homem inteiro, ainda que para isto me desfaça de um apêndice, um assessório? quando eu aprender a ser já foi ontem e amanhã é dia de colher os dulcíssimos frutos que um dia foram só sementes, por vezes amargas. quando eu aprender a ser, certamente conhecerei o silêncio que me cabe, o silêncio que os corações precisam para manter a vida. quando eu aprender a ser, serei, seremos, serenos muito antes do que se imagina quando eu aprender a ser"


(Ribeiro Pedreira)
http://moinhosilente.blogspot.com
nossa casa. profundidade

21.10.11

Heitor villa lobos


Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar
As asas da noite que surgem
E correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar
Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor
Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar

A tua presença

 

12:53. quando ouvi as primeiras notas

 senti que (o beija-flor-amigo)

havia voltado

foi breve o nosso encontro

o ar gelado de uma primavera escondida

assusta e não deixa ficar

bicou a flor do pé de romã

ainda estranha a ausência das folhas

no nosso jardim

veio apenas cantar a saudade

19.10.11

Céu aberto


Te espero

todas as manhãs

 vesti

o céu 

pra te encontrar

Aquela noite

 imaginei

os meus dias

sem a tua presença

volta

confia

no meu

cheiro de flor,

água nas mãos,

sorriso derramado

19.9.11

Não deixará saudades



Álcool maldito

desengano da espécie

A cada gole

não me tens

Alegria ausente

embalsama o que não levarás

a  poesia,

o  riso,

a  fala,



Arde na incensatez

vício estúpido


terás em vida

o último gole




17.9.11

quero passear distraída

com a boca descalça

pedalar dando voz as pernas

quero chegar a lugar algum

10.8.11

Todos os dias temos um encontro no meu jardim. 
Eu te ofereço água e você me ensina a voar.

13.6.11

Ancestral

quando tua cozinha perfuma as minhas lembranças
abro a boca
fechando os olhos


teu olhar miúdo
 mãos grandes
 passo
arrastado
carregando 
histórias 
lembrando que as minhas só estavam por começar

21.5.11


dúvidas santas

penetram

lábios profanos

maldição dos olhos

é o desejo 

alterando

tecidos, pelos, peles



13.5.11



Coração apertou e dobrou-se em pensamentos

sonhos imensos  percorrem os meus joelhos

fiz dos meus braços, abraços

toma-me


11.4.11



 
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.

3.4.11

Zera a Reza

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza
Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca
Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

1.4.11


Oh! Quanta distância
Quantos cestos
De estradas eu andei
Mais de uma vez
Só pra te ver


Oh! Quanto cansaço
Quantos matulões
de luas eu cruzei
Mais de uma vez
Só pra te ver

Pensamentos que me invadem
Andaria duas mil estradas
Cruzaria cinco mil luas
Somando sete mil beijos
Pra uma boca tua

27.3.11

Aquele chorinho


Ao acordar chorei
e chorei 

ao entardecer



 chorei chorinho
chorado
sentido



devagarinho
 chorei
chorei as dúvidas
chorei saudade


lavei o canto
no
abraço
daquele
brasileirinho



CUIDA DE MIM


Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto

Pra dizer as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo

Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou;
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir

Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu

24.3.11

Arthur Bispo do Rosário


  "A vida, beija-flor, é o teu estandarte.
Ali, teceste-nos.
Recriaste, porque eras escravo
De quem te recriou
— a Voz que te fez pássaro
Que desfiava um mundo para coser outro
Deu-te asas melhores que as de um anjo,
Pois, onde neles há um sopro,
Em ti, havia só humanidade"

(FERNANDO de Souza)

22.3.11

Não resisto ao OUTONO


No inverno te proteger
no verão sair pra pescar
no outono te conhecer
primavera poder gostar
no estio me derreter
pra na chuva dançar e andar junto!

10.3.11



Entrega leve

vento

que sopra vento



1. das observações que o dia carrega
2. do beijo que molha os lábios na cozinha
3. da maciez entre os travesseiros no quarto alegre
4.do carinho que me transporta
5. do vento que sopra borbulhando segredos

 F I M

5.2.11

LEITE DERRAMADO


O vácuo

das horas interrompidas

cordão da desesperança

prisão temporária

trompas mutiladas

cicatrizadas

infectadas

abortam vidas


endométrio

VAZIO

leite

derramado

27.1.11

Segredos

ah! o amor

e

suas

pétalas de espelho

 desabrocha

o teu silêncio de água

amadurece o chão

25.1.11

R E T A L H O S


deito-me em vão pedaços

flores

cores

vazios

 R E T A L H O S meus

dói

me alinhavar

Por vezes

costuro

 minha

face 

única

 não . nunca

cresci

inteira