12.10.09

Mémórias

[...] meu coração batia bongô, um ritmo desconhecido, embriagante, escandaloso. O tecido leve do vestido cedeu, transformando-se em espuma ao se encharcar com aquela água morna que parecia lamber a minha pele. [...] Que gosto bom tem o desejo ! Molhada até os ossos, porém sem frio, cheguei próximo ao som, podia tocá-lo com as pontas dos dedos. Havia algumas folhas entre a música e eu. Iniciei a dança tantas vezes ensaiada em frente ao fogão, cantei em voz alta músicas desconhecidas, e senti um abismo fundo se abrir. Senti o sangue correr vermelho nas veias. Chorei gotas de canela, amora, camélias brancas. Eu estava entregue. E não foi preciso sequer levantar as folhas para ver o segredo. Ele havia grudado em meu corpo. E havia de sair apenas quando as chamas fossem altas.

*extraído das páginas amarelas do "papel manteiga para embrulhar segredos"

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