16.12.09

Voar


- Alô, cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que saudades me deixaste?
- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe . . .
Voltei, te trouxe a alegria.
- Muito contas, cotovia!
E que outras terras distantes
Visitaste? Dize ao triste.
- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, Bahia . . .

- E esqueceste Pernambuco,
Distraída?

- Voei ao Recife, no Cais
Pousei na Rua da Aurora.

- Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!

- Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino
Para o bem que é deste mundo:
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.

(Manuel Bandeira)

4 comentários:

Moni Saraiva disse...

Sensibilidade que dialoga com a natureza...Adoro o Bandeira...

Abraços!

claudio rodrigues disse...

Renatinha, essa árvore é simplesmente linda! E o voar do Bandeira muitíssimo singelo. Que poeta lindo né? Lmebrei dos nossos arcanjos. Sabe? Os dois sobreviveram mesmo, estão dois belos rapazotes e vêm juntos beber minha água. Beijinhos e obrigado por sua gentileza.

Flor de sal disse...

Moni

fontes de energia, adoro!

Flor de sal disse...

Claudio,

Notícia boa, feito bom dia e abraço de manhã. Os pássaros "anônimos" que me visitam aqui aparecem enquanto as plantas recebem água ou quando escuto uma musiquinha boa, eles são espertos e sabem o que é bom. E quando quiseres voar para o interior da Bahia, fonte de água pra te receber.

Beijos, Beijos.