11.1.10

Cheiro de flor quando rí


Por Ana Jácomo

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida. E sinta vontade de escrever poemas. Deixar florir pelo corpo os sorrisos que nascem no coração. Nesse mistério que nos faz olhar a mesma imagem inúmeras vezes, sem cansaço, mesmo nos instantes em que é feita de papel ou de memória. Que nos faz respirar feliz que nem folha orvalhada. Querer caber, com frequência, no mesmo metro quadrado onde a tal vida está. Cantarolar pela rua aquela canção que a gente não tinha a mínima ideia de que lembrava.

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba ao encontrá-la que sentia saudade dela antes de conhecê-la. Estive pensando nesse mistério que faz com que aquela vida que acaba de encontrar a nossa nos deixe com a impressão de estar no nosso caminho desde sempre, como se fosse um sol que esteve o tempo todo ali e a gente somente não o ouvia cantar. Nesse mistério que nos faz trocar buquês dos olhares mais cuidadosos. Que nos faz querer cultivar jardins, lado a lado. Nesse mistério que faz com que a nossa vida queira um bem tão grande à outra vida, que vai ver que isso já é uma prece e a gente nem desconfia.

Estive pensando nesse mistério lindo que você é para alguém e alguém é para você ou que ainda serão um para o outro. Nessa oportunidade preciosa dos encontros que nos fazem crescer no amor também com o tempero bom da ludicidade. Nesse clima de passeio noturno em pracinha de cidade pequena. Nessa paz que convida o coração pra se recostar e repousar cansaços. Nesse lume capaz de clarear um quarteirão inteirinho da alma. Nesse abraço com braços que começam dentro da gente. Nessa vontade de deixar o mundo todo pra depois só para saborear cada milímetro do momento embrulhado pra presente.

Estive pensando nesse mistério que não consigo desvendar. Nem tento.

10 comentários:

Jaya Magalhães disse...

Que não ousemos. O bom da vida é o não-desvendar.

E esse cheiro de flor, quando ri.

Um beijo, moça.

Anônimo disse...

Oi Renata! Bom encontrar você lá no jardim.:)
Pois é, esse mistério é pra ser mesmo vivido como mistério. Como um mistério lindo. Não faria diferença alguma desvendá-lo, se nos fosse possível. O que faz diferença é viver. Diferença boa é a gente ser feliz.
Lindo ano pra sua vida!
Beijos

Flor de sal disse...

Ana,

te acompanho desde que criei o blog, as tuas reflexões enobrecem a minha alma. Obrigada, por se 'entregar aqui. Obrigada por existir e nos alimentar com as palavrar que nunca param de ir a tantos lugares.

Beijos querida,

Flor de sal disse...

Jaya,

cheiro de flor quando rí, é o blog da Ana. Passa lá! Tá aqui no faz girar a roda.

Bjo

renata carneiro disse...

mistérios não devem ser desvendados. são atraentes assim, em silêncio.

merecem ser, somente, sentidos.

beijos!

Gian Fabra disse...

se desvendar deixa de ser mistério...

e como diz o Gil, 'mistério sempre há de pintar por aí'

bjs

Ribeiro Pedreira disse...

Um doce mistério que nos arrebata os sentidos e os direciona ao centro gravitacional do querer, do bem-querer.
Pra que descobrir o que está por trás do que nos nutre com sabores e sensações estranhamente agradáveis?

Flor de sal disse...

Gian,

lembrança boa, musical!

obrigada!

Flor de sal disse...

Dado,

haverá de ser mistério constante,

beijos meus

A Respigadeira disse...

Renata, gosto de ler-te. Fantástico!